Me senti inspirada a começar um conto :)
Aquele sonho abalou meu senso de realidade. Era tudo tão fácil de se acreditar, tão parecido com a minha vida, mas ao mesmo tempo tão maravilhoso, aquele tipo de sensação de que nada pode deter sua felicidade. Ele estava tão lindo, a camiseta preta justa ao corpo como sempre usava, mostrava a falta de músculos, mas um corpo bonito para um rapaz de 21 anos. A boca continuava a mesma que eu havia me esquecido, depois de todos aqueles anos longe dela. Uma boca macia, e um pouco saliente, com lindos e afiados dentes brancos aconchegados em uma língua rosada. Seu sorriso era fascinante, assim como qualquer palavra que saísse de sua boca. Parecia como uma leve brisa fresca da manhã, as frases criadas especialmente para aqueles momentos adoráveis, retiradas de filmes, livros, poesia pura, música pesada. Olhos sérios e escuros, protegidos sobre grossas sobrancelhas.
Separadas, todas essas características poderiam ser consideradas estranhas ou até mesmo feias. Mas, em conjunto, eram o sinônimo da perfeição. Os cabelos lisos e um pouco duros de creme deixavam o perfume adocicado em minhas mãos, e ficavam parados, da maneira como eu os deixasse. Gostava de moldá-los bem para cima, espetados e bagunçados, como se ele houvesse recém acordado. Acordado a meu lado. Mas naquele sonho mal nos tocamos. A areia da praia estava quente do sol do final da tarde, e o mar brilhava com ondas pequenas que queriam lamber nossos pés, espichando-se para tocar-nos.
“Vou encontrar um emprego e comprar um barco.”, ele me disse, animado.
Aquilo era algo realmente interessante. Quando nos conhecemos, ele sequer falou que gostava do mar. Nunca demonstrou qualquer interesse por barcos. Ponto um em desacordo com a realidade, mas, no meio desse sonho poético, decidi que queria seguir em frente e não acordar. Eram raras as vezes que sonhava com ele. Queria aproveitar cada segundo do seu mau humor, das suas palavras de descaso fingido quanto a mim, do som do seu riso. Aquilo me faria muito bem. Aquele friozinho na barriga continuava não importa o que ele dissesse. O simples calor do seu corpo, produto da minha fértil imaginação, fazia com que eu desejasse dormir para sempre.
“Ah, é? Que legal! Mas o que você quer fazer com um barco?”, perguntei, já imaginando seu resmungo de decepção por eu não estar dentro de sua mente, entendendo seu raciocínio.
“Quero viajar por aí! Vamos! Vem comigo!”, e então seu sorriso se iluminou, fazendo com que, pela primeira vez em muitos anos, eu pudesse sentir seu toque em minha pele novamente. Uma energia eletrizante passou dele para mim, o prazer de ser simplesmente chamada para uma aventura e suas mãos nas minhas. Aquele sim era o rapaz que eu um dia havia conhecido. O cara que por mais que resmungasse sobre a minha pequena e substituível presença, sorria e me queria por perto para, sem mais nem menos, pegar um metrô qualquer e ver aonde essa viagem daria.
That’s it.